Re-member


"...sempre que - especialmente no início das práticas espirituais - os pensamentos estiverem conscientemente comprometidos a sentir o corpo e a observar os vários movimentos, a mente acaba por se ocupar de forma diferente da habitual. Tal vai libertá-lo de uma considerável quantidade de divagações sem significado e impraticáveis, nas quais o ser humano perde tanto tempo da sua vida. Mais adiante, sabendo já de forma bem clara, onde se centrar, muitas destas imaginações vãs cairão por terra por si só.

O despoletar desta sensação fisica e da consciência dos diversos movimentos do corpo também vêem a demonstrar intuitivamente como, de forma geral, ele se identifica com as sempre cambiantes exigências do seu corpo e, ao mesmo tempo, de forma paradoxal, se desliga delas de forma errada. Pode-se ver, assim, quão pequena é a consciência que geralmente o ser humano tem do seu corpo. Talvez, sem exagero, se possa dizer, que os únicos momentos em que ele, mais ou menos, se apercebe são nas ocasiões em que a atenção é dirigida à força para si próprio pela exaustão, fome, sede, doença, repentinas lesões, desejos carnais, chamadas da natureza, ou pelo calor ou frio excessivos. Mesmo assim, a consciência do corpo é apenas parcial, uma vez que a sua atenção está centrada no que o incomoda, ou no que lhe exige satisfação nesse particular momento. Assim, em vez do corpo ser usado como meio para o homem atingir objectivos mais elevados - estar "presente" em si mesmo - acaba por se tornar, numa irritação; consequentemente, acaba por gratificar os seus apelos imperativos, cega e rapidamente, para regressar ao seu habitual estado de distração, logo que possível, ficando de novo absorvido passivamente em fantasias mentais inúteis, sonhos e até em emoções negativas.

De cada vez que se dá este inesperado movimento de interiorização e este estado raro de consciência-quer seja inactivo, quer envolvido em acções no exterior-chamando-o de volta a Si da condição de falta de atenção e dispersão, verá como isto está intimamente ligado a um sentimento e a um conhecimento subtil do seu corpo. Neste preciso momento, sem estar consciente ao princípio, emerge a memória da unidade (re-member) da mente com o corpo e com os sentimentos, o que, em certa medida, será sentido como uma peculiar consciencialização global do todo o seu eu, uma reunião invulgar destes três aspectos do seu ser, acontecendo num certo nível e plano, e por breves instantes. Abruptamente, esse estado desvanece-se..."

(Edward Salim Michael)

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