Fernão Capelo Gaivota...Be



"...Durante muito tempo Fernão esqueceu-se do mundo onde vivia, aquele local onde o Bando vivia com os olhos completamente cerrados em relação ao prazer de voar, utilizando as asas como meros meios para atingir o fim de procurar e lutar pela comida. Mas de vez em quando, e só por um momento, lembrava-se.
Lembrou-se numa manhã em que saíra com o instrutor, enquanto as outras gaivotas descansavem na praia, após uma sessão de voos de asa dobrada.
-Onde estão os outros Henrique? - perguntou, em silêncio, já familiarizado com a telepatia que as gaivotas utilizavam em vez de gritos e guinchos.
-Porque somos tão poucos aqui? Lá do sítio de onde venho...
-...milhares e milhares de gaivotas. Eu sei. - Henrique abanou a cabeça. - A única resposta que encontro, Fernão, é que tu és um pássaro num milhão. A maior parte de nós percorremos um longo caminho.Fomos de um mundo para o outro que era quase igual ao primeiro, sem nos preocuparmos com o destino, vivendo o momento.Fazes alguma ideia de quantas vidas teremos de viver antes de compreendermos que há coisas mais importantes do que comer, lutar ou disputar o poder no Bando? Mil vidas, Fernão, dez mil vidas! E, depois, mais cem vidas até começarmos a aprender que a perfeição existe, e outras cem para constatar que o nosso objectivo na vida é conseguir a perfeição e pô-la em prática.
As mesmas regras se aplicam, agora, a nós: escolhemos o nosso mundo através do que aprendemos neste. Se não aprendemos nada, então o próximo mundo será igual a este, com as mesmas limitações e obstáculos a vencer.Abriu as asas e voltou-se para enfrentar o vento. ..."

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